06 janeiro 2007


A grande multidão dos apaixonados médios é mais tranquilizadora, embora uma sexualidade forte ponha a este carácter, mais do que aos primários, um problema sério. Já que é “o homem da medida”, querida e conquistada mais do que natural, o apaixonado médio colocá-la-á na sua vida instintiva. O poder dos instintos é contido pelo poder da razão. É este que o ajuda a distinguir lucidamente o desejo do amor, que o põe de sobreaviso contra os entusiasmos, que exige juntar de modo inseparável a estima ao amor e, sacrificando talvez a feliz espontaneidade, opõe a todas as emoções instintivas a barreira do controle de si próprio.



Em relação ao casamento, esse apaixonado equilibrado apresenta traços comuns com o sentimental, e outros com o fleumático. Tal como o sentimental, quer em amor uma escolha única e durável, uma partilha total, cuja forma é a união conjugal. Contribui com a mesma boa-fé, a mesma aspiração à intimidade, onde se é compreendido, aguentado, amado. Experimenta a mesma necessidade de segurança, de garantia entre o tempo que usa e que destrói, contra os homens insensíveis ou incompreensíveis. Mas tudo isso em tom maior: a insatisfação latente, a desconfiança instintiva, são compensadas pela confiança em si e na razão; o passado ensina e encanta sem paralisar; o futuro é mais exaltante que perturbante; a união com o ser amado já não é um refúgio contra os rigores do destino, mas um ponto de partida donde nos lançamos confiantes e fortificados.





André Le Gall e Suzanne Simon

em Os Caracteres e a Felicidade Conjugal

Morais Editora. Lisboa. 1967.